noticias em geral, noticias política, esportes, internacionais
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
Um 'império' construído com hábitos de vida simples
Rotina sem luxos reforça idolatria de pernambucanos pela família Arraes
Caio Barbosa
Rio - A simplicidade da sepultura onde Campos
foi enterrado chamou a atenção de muita gente no país, mas, para quem
vive lá, não há novidade alguma. Simplicidade sempre foi a marca da
família Arraes. E este é o fator que mais a aproxima do “povão”. A casa
da família de Campos é confortável, mas sem grandes luxos e longe da
área nobre da cidade. Fica na Zona Norte, no bairro Dois Irmãos, a pelo
menos meia hora, com sorte, da turística Boa Viagem, o bairro à
beira-mar mais conhecido da capital.
Na
rua onde morava, vizinhos confirmam o estilo de vida que aproximava
Campos da população. Painel em sua homenagem foi instalado na porta
Foto: Ernesto Carriço / Agência O Dia
Na vizinhança, casas com o mesmo
padrão dividem a rua com outras bem simples, com tijolos aparentes. Até o
asfaltamento é precário. Algumas ruas ainda são de terra batida. Nem
segurança há por perto. Sejam policiais ou mesmo particulares do
governador. Tanto que uma equipe de jornalistas acabou assaltada na
última sexta-feira, o que só então fez a polícia reforçar o efetivo no
local.
“Seu Eduardo passeava com o cachorro
por aqui, falava com os vizinhos. Me lembro da vez em que foi eleito
governador. Passou por mim, cerrou o punho com os olhos arregalados e um
sorriso largo e disse: ‘Ganhamos’. Os filhos e Dona Renata também são
pessoas simples, sem luxo”, contou o vizinho, Manoel Francisco, que vive
numa casinha sem muito conforto, a poucos metros da residência dos
Arraes.
Os hábitos de vida simples, sem ostentação,
ajudam a reforçar a idolatria de boa parte dos pernambucanos pela
família Arraes, que vai muito além das realizações políticas de Eduardo
Campos e do seu avô, o também ex-governador Miguel Arraes. Para uns, o
Doutor Arraes. Para a maioria, o “Véio Arráia”, apelido pronunciado
carinhosamente com o sotaque recifense. Para todos, o homem que levou
energia elétrica e água para o sertão. Morto no mesmo dia que o avô e ídolo, Eduardo
Campos caminha para virar mito em Pernambuco. Como Miguel Arraes. O
respeito que o pernambucano tinha pelo Arraes é maior do que qualquer
outro político. Muito mais até do que o Lula, que foi presidente da
República e era pernambucano, coisa que o Arraes não era. Era cearense.
“Mas ninguém fez mais por este povo. Virou mito mesmo. Ele tinha a voz
embolada e era difícil entender o que dizia, mas ele falava com a nossa
alma”, disse o gari Rosalvo da Conceição, no funeral. O escritor Marcelo Meira, que trabalhou com
Miguel Arraes nos anos 1980, não faz parte da turma de fãs do avô de
Campos, mas tem um depoimento impressionante, que dá a dimensão da
idolatria do político no estado, sobretudo no sertão. “Via doentes
colocarem a foto do Arraes num copo d’água, misturar bem e beber em
busca de um milagre. Um troço incrível”, conta Meira. Agenda sempre cercada pelos filhos O número de presentes no funeral de Eduardo
Campos, que passou de 150 mil pessoas, é o dobro do registrado na morte
do avô, político mais popular da história do estado. Para muitos, o
sentimento era de orfandade. Pai de cinco filhos, o ex-governador
costumava dizer que gostava de “criar gente”. E se preocupava tanto com
os seus filhos quanto com os dos outros. Dizia sonhar com um país onde
filhos de ricos e pobres, trabalhadores e patrões, negros e brancos,
estudassem na mesma escola. “Ele tinha a vida atribulada, mas vivia
‘arrodiado’ dos filhos. Sempre que podia, carregava os meninos junto
dele. Era apaixonado por crianças, que simbolizavam para ele um futuro
melhor”, conta o fotógrafo Genival Fernandes, que desde 2005 fazia
imagens do ex-governador. Campos o chamava pelo apelido, “Papparazi”,
que, no caso de Genival, deixou de ser adjetivo para virar substantivo
na voz do ex-governador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário