Como a delação de Costa impacta a corrida eleitoral
Denúncias atingem o governo em cheio e também podem prejudicar candidatura de Marina Silva. Tucanos veem chance de reação
Gabriel Castro, de Brasília
Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB)
(Ivan Pacheco e Felipe Cotrim/VEJA.com)
As quatro últimas semanas antes do primeiro turno da eleição
presidencial devem ser ainda mais movimentadas depois que Paulo Roberto
Costa, ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras, firmou um
acordo de delação premiada. Conforme revelou VEJA nesta semana, ele
citou os políticos beneficiados pelo esquema de corrupção na estatal em
depoimento à Polícia Federal. A investigação sobre o escândalo da
Petrobras pode alterar o panorama justamente quando a campanha entrava
no momento de consolidação dos votos.
Em acordos de delação premiada, o depoente se compromete a não omitir
qualquer informação relevante de que dispuser. E precisa sustentar as
acusações que faz. Disso depende o abatimento da pena a que ele será
submetido.
Evidentemente, os políticos citados nominalmente por Costa como
beneficiários do esquema devem ser os mais afetados: isso inclui o
presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB), que disputa o
governo do Rio Grande do Norte.
Mas a crise se coloca, sobretudo, no caminho da reeleição da
presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT. Paulo Roberto
Costa foi nomeado para o cargo na Petrobras por Lula, em 2004, e ficou
no cargo até 2012 – já no governo atual, portanto. Além disso, o
tesoureiro do PT, João Vaccari, é citado pelo ex-diretor como uma das
pessoas que captaram dinheiro no esquema. Praticamente todos os citados
no escândalo são aliados da presidente.
A revelação de detalhes sobre os desvios em escala industrial pode
atingir a popularidade de Dilma. Eles são a confirmação de que a crise
na Petrobras não é fruto de acidente ou deslize, mas resultado de uma
política consciente de loteamento de cargos-chave da administração da
companhia.
Como Paulo Roberto Costa também mencionou o nome do ex-governador
Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco e candidato à presidência
morto em 13 de agosto, entre os envolvidos no esquema, a campanha de
Marina Silva pode ser afetada. No mínimo, a candidata do PSB deve ficar
impossibilitada de explorar o caso eleitoralmente.
Ao tucano Aécio Neves, o episódio se desenha como uma oportunidade –
talvez a última – de reagir nas pesquisas de intenção de voto. É nisso
que os tucanos apostam agora.
Já na manhã deste sábado, os três candidatos demonstraram como pretendem lidar com o caso. Aécio Neves divulgou um vídeo em que chama o episódio de ‘mensalão 2’. Dilma adotou um discurso cauteloso:
"Eu gostarei de saber direitinho quais são as informações prestadas
nessas condições e te asseguro que tomarei as providências cabíveis",
disse a candidata. Marina Silva tratou de se desvincular do episódio e deve deixar que o partido responda os questionamentos sobre o escândalo.
O professor João Paulo Peixoto, do Instituto de Ciência Política da
Universidade de Brasília, acredita que o PSDB pode se beneficiar das
revelações. O caso, segundo ele, dá uma última esperança a Aécio de se
consolidar como a alternativa mais viável que o PT e chegar ao segundo
turno. "Eu tendo a acreditar que o PSDB vai crescer com a transformação
das outras candidaturas em alvo", diz Peixoto. Entretanto, o professor
avalia que ainda é cedo para avaliar se Aécio Neves pode ultrapassar uma
de suas adversárias na corrida presidencial.
As últimas pesquisas mostram que Dilma Rousseff tem pouco mais de um
terço do eleitorado. É aproximadamente o potencial de votos mínimo do PT
em eleições presidenciais: são os petistas históricos, lulistas
convictos e beneficiados pelo Bolsa Família – que dificilmente mudariam
seu voto. Por isso, o eleitorado de Marina Silva se apresenta como o
campo prioritário para as ofensivas de Aécio.
Nos próximos dias, portanto, conforme novos detalhes do escândalo
surgirem e as informações se consolidarem na cabeça do eleitor, a
turbulenta eleição de 2014 pode sofrer novas guinadas. "A instabilidade
do quadro político brasileiro é evidente", diz o professor da UnB.
Reprodução/Veja
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