sexta-feira, 22 de abril de 2016

Na ONU, Dilma diz que Brasil vive momento grave mas saberá evitar retrocesso

NAÇÕES UNIDAS (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff dedicou praticamente todo o discurso feito na ONU nesta sexta-feira às mudanças climáticas, mas fez referência ao "grave momento" vivido pelo Brasil e disse que o país saberá evitar retrocessos, em meio à tramitação do processo de impeachment no Congresso.
Havia uma expectativa durante a semana de que a presidente usaria a tribuna na ONU para denunciar o impeachment como golpe, mas uma fonte do Palácio do Planalto disse à Reuters mais cedo nesta sexta que a fala de Dilma na sessão de assinatura do acordo de Paris sobre o clima seria focada de fato nas mudanças climáticas.
Em breve referência à situação política atravessada pelo país, Dilma disse já na parte final do discurso de pouco menos de 10 minutos que não poderia terminar o pronunciamento sem mencionar o grave momento que o Brasil vive.
"Quero dizer que o Brasil é um grande país, com uma sociedade que soube vencer o autoritarismo e construir uma pujante democracia. Nosso povo é um povo trabalhador e com grande apreço pela liberdade. Saberá, não tenho dúvidas, impedir quaisquer retrocessos", afirmou.
Dilma também fez um agradecimento a líderes internacionais que manifestarem solidariedade a ela em meio ao pedido de abertura de processo de impeachment, que já foi aprovado pela Câmara dos Deputados e tramita atualmente no Senado. Se a decisão de abertura do processo for confirmada pelos senadores, a presidente será afastada do cargo provavelmente em maio.
A possibilidade de Dilma usar o discurso na ONU para chamar o impeachment de golpe, que era defendida por ministros e fontes do PT, foi criticada por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
O decano da corte, Celso de Mello, disse na quarta-feira ser um "gravíssimo equívoco" apontar o processo como golpe, uma vez que segue a Constituição e rito estabelecido pelo próprio STF.
Apesar de não ter usado o discurso na ONU para atacar diretamente o processo de impedimento, Dilma vai conceder uma entrevista coletiva mais tarde nesta sexta-feira em Nova York em que deve reiterar sua defesa contra o processo, que ela classifica como um golpe que teria como um dos articuladores o vice-presidente Michel Temer.
CLIMA
Na maior parte do discurso, Dilma ressaltou as promessas feitas pelo Brasil para combater as mudanças climáticas, como o desmatamento zero na Amazônia, a redução de 43 por cento das emissões de gases do efeito-estufa até 2030 e o aumento da participação das fontes renováveis na matriz energética brasileira até 45 por cento.
A presidente assumiu um compromisso de assegurar a rápida entrada em vigor do acordo no Brasil, e disse que o caminho à frente será ainda mais desafiador, uma vez que implica em transformar aspirações em resultados concretos.
Dilma também fez uma cobrança aos países desenvolvidos por mais ação no combate às mudanças climáticas, e disse ser fundamental um aumento na promessa de financiamento global de 100 bilhões de dólares anuais para o combate à mudança do clima.
"O desafio de enfrentar a mudança do clima torna imprescindível o aumento progressivo do nível de ambição dos países desenvolvidos", afirmou a presidente, que exaltou os resultados "expressivos" de países em desenvolvimento como o Brasil na redução de emissões.

(Reportagem de Louis Charboneau e Luciana Lopez; Reportagem adicional de Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro, e Lisandra Paraguassu, em Brasília)

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